Horas de Nossa Senhora / Rezar em português
A edição da Biblioteca Nacional de Portugal inclui dois volumes: Fac-símile do exemplar da Biblioteca do Congresso, em Washington, Rare Book Division, Rosenwald, 451 (240 páginas) e um estudo de João José Alves Dias intitulado “Rezar em português: introdução ao livro de Horas de Nossa Senhora segundo costume Romano...”.
Um tempo santificado
Antes das torres das igrejas serem decoradas com relógios, o que só se generalizou pelo século XV, o tempo era marcado pelo som das horas canónicas, tangidas pelo clérigo no sino, horas essas que o cristianismo recuperou da prática judaica de recitar orações a horas fixas do dia. Numa cadência de três horas, os sinos tocavam e anunciavam o momento de rezar, marcando assim o tempo religioso e o ritmo do trabalho.
Inicialmente destinava-se a servir de guia aos religiosos e monges de cada comunidade, assim como a todos os ordenados, dado que estes tinham de realizar, de forma ininterrupta, a oração da Igreja (louvar a Deus e pedir a salvação da humanidade). A vida consagrada, organizada com o monaquismo, tinha como objectivo máximo essa oração regular que assim se desenvolveu e aumentou, pois a ela eram dedicadas várias horas do seu labor. Seguiam para esse efeito o Breviário, livro que, de uma forma breve e prática, condensava todos os textos necessários para esses ofícios divinos.
Essas horas, distribuídas na sua forma inicial por oito tempos, tinham os seguintes nomes: matinas (meia-noite); laudes (três da manhã); prima (seis horas); terça (nove horas); sexta (meio-dia); noa (três da tarde); vésperas (seis da tarde); completas (nove da noite/depois do pôr-do-sol). A cada uma destas horas correspondia um conjunto de orações.
Os Livros de Horas
Toda a comunidade cristã era também convidada a participar nessa celebração constante. Para que o pudesse fazer começaram a aparecer, na Idade Média tardia, os chamados Livros de Horas, que tornavam acessível aos leigos, através de imagens e de diálogos, o Breviário, que os não tinham. Lembremos o que escreveu Lewis Carroll. no começo da sua obra imortal Alice no País das Maravilhas: «Alice começava a aborrecer-se imenso de estar sentada à beira-rio com a irmã, sem nada para fazer: espreitara uma ou duas vezes para o livro que a irmã lia, mas não tinha gravuras nem diálogos: “E de que serve um livro, pensou Alice,se não tem gravuras nem diálogos?”». Pensamento semelhante deveriam ter os Homens medievos, dado que os Livros de Horas se tornaram o maior best-seller dos séculos XIV a XVI. O aparecimento da imprensa veio ajudar essa divulgação e esse êxito.
Livros com imagens que permitiam uma dupla leitura: as representações facilitavam a apreensão do texto, ou a meditação sobre o mesmo, ao mesmo tempo que constituíam um guia para os que não sabiam ler, trazendo rapidamente à memória os ensinamentos das Escrituras.
Os Livros de Horas, quer manuscritos que impressos, obedecem a uma tipologia comum: 1. O Almanaque ou Tábua das Festas Móveis; 2. O Calendário; 3. Os Evangelhos e a Paixão; 4. As Horas propriamente ditas da Virgem Maria, da Cruz e do Espírito Santo; 5. Os Sete Salmos de Penitência; 6. As Vigílias dos mortos; 7. Orações diversas. Cada uma destas partes era separada por uma grande imagem relacionada com o Ofício que acompanhava. As imagens que adornavam e iluminavam as diferentes cercaduras de cada uma das folhas encontravam-se, por norma, também relacionadas com o mesmo texto.
Até ao terceiro quartel do século XV, estes Livros de Horas eram quase exclusivamente em latim, manuscritos e ricamente iluminados. Dada a sua qualidade de objecto de arte, destinavam-se a servir ou reis ou grandes senhores da nobreza. A imprensa veio permitir a sua difusão junto de todos os letrados.
in:
http://www.snpcultura.org/vol_horas_de_Nossa_Senhora.html
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